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sábado, 13 de janeiro de 2018

RESUMO DO LIVRO "A HORA DA ESTRELA"



A Hora da Estrela é um livro da escritora Clarice Lispector, nascida 
na Ucrânia e naturalizada brasileira. Publicado em 1977, conta a 
história da emigrante nordestina Macabéa por meio do narrado 
Rodrigo S. M.
Análise e Interpretação


Clarice Lispector e o romance intimista

Clarice Lispector era uma escritora da terceira geração do modernismo. 
Seu primeiro romance publicado foi Perto do Coração Selvagem, quando 
tinha 17 anos, e chamou a atenção por sua grande qualidade narrativa. 
Desde então, Clarice se mostrou uma das grandes escritoras em língua 
portuguesa.


O romance psicológico, ou romance intimista, é o foco de 
Clarice Lispector. Nesse tipo de romance, o interesse é voltado para os 
conflitos psicológicos internos das personagens ou do narrador, sejam 
eles conscientes ou inconscientes.Os romances da autora estão repletos 
de estudos psicológicos das personagens, mas ocorrem poucas ações, 
já que seu interesse está voltado para o que se passa dentro do ser humano. 
A epifania é a grande matéria-prima das obras de Clarice.

O diálogo interno é preferido ao diálogo externo, a vida interior é mais 
explorada ao que se passa ao redor das personagens. O romance intimista 
teve seus expoentes na obra de Marcel Proust, de Virginia Woolf e de 
Clarice Lispector no Brasil.

O chamado fluxo de consciência, mais que os fatos em si, é matéria 
essencial para a romancista, que busca por meio de seus personagens, 
expor conflitos internos. A crise existencial e a introspecção causada 
por essa crise parecem ser as matérias que dão início às obras de Clarice 
Lispector.
Contexto

A maioria das obras de Clarice Lispector foram escritas durante a 
ditadura militar no Brasil. Quando muitos escritores procuravam 
denunciar ou criticar a situação política nacional, Clarice Lispector 
focava sua obra no psicológico, deixando a política de lado.

A atitude da escritora de ignorar o momento histórico gerou diversas 
críticas que a acusavam de ser alienada. Clarice, porém, tinha consciência 
política e, além de explicitá-la em algumas crônicas, isso está presente 
no romance A Hora da Estrela.
O narrador Rodrigo S. M.

O romance vai ser narrador por Rodrigo S. M., que também é apresentado 
como escritor. Ele é um dos elementos mais importantes do livro, fazendo 
uma mediação entre os acontecimentos, os sentimentos de Macabéa 
e os seus próprios.

Antes de começar a contar a história de Macabéa, Rodrigo S. M. abre o
 romance com uma dedicatória. Nela, o narrador faz uma profunda 
reflexão sobre o ato de escrever. Ele sabe que a palavra tem papel 
fundamental não só na escrita, mas no mundo.

A linguagem é tratada como performática, isso quer dizer que ela 
encerra dentro de si o poder da ação: "tudo no mundo começou com 
um sim". Com a consciência do poder da palavra, o narrador começa
 uma série de questionamentos sobre o ato de escrever e como contar a 
história de Macabéa.

O capítulo em questão começa com uma série de dedicatórias para os 
grandes compositores de música clássica. Podemos entender nesse 
contexto que a vibração, a linguagem antes da palavra, tem um papel 
muito importante no livro. O inefável, aquilo que não pode ser dito é 
o grande foco de A Hora da Estrela.


O narrador mantém um papel essencial ao longo de todo o romance, 
e não apenas na dedicatória. Macabéa é uma pessoa simples, com 
pouca consciência de si mesma. O narrador aparece como um mediador 
dos assuntos internos de Macabéa. Em um movimento que vai do seu 
psicológico para a da personagem e vice-e-versa, o narrador consegue 
criar uma teia complexa de sentimentos e pensamentos em um
personagem aparentemente simples.Rodrigo S. M. nos diz que ao longo 
de todo o romance existe um senhor tocando violino na esquina. 
A música faz parte essencial da estória, como aquilo que não pode ser 
dito, apenas sentido.

Esse movimento também serve para que o narrador desenvolva os seus 
próprios conflitos internos e exponha questões sociais que geralmente 
não têm espaço nas obras de Clarice Lispector. Rodrigo S. M. diz não 
pertencer a nenhuma classe social, mas reconhece na Macabéa a 
precariedade das populações mais pobres.

Macabéa é nordestina como o narrador e como Clarice Lispector, 
que nasceu na Ucrânia mas cresceu em Recife. O narrador sente por 
Macabéa a proximidade da origem, mas a vida deles no Rio de Janeiro 
é muito diferente. A relação entre o narrador e a personagem acaba 
sendo um tema central no livro.
Macabéa

Macabéa é uma entre as muitas mulheres nordestinas que saíram do 
sertão para a cidade. O tema da migração e da miséria do nordeste 
percorre o romance em paralelo com o desenvolvimento psicológico 
do narrador e da personagem. Rodrigo S. M. é o criador da personagem, 
mas diz ter vislumbrado Macabéa em um relance, quando viu o rosto 
de uma nordestina na rua.

A personagem é uma pessoa simples, tanto materialmente como 
psicologicamente. Macabéa não tem consciência de si mesma e 
quase nenhum desejo. As únicas vontades que ela possui vêm de 
sua fascinação pelas propagandas ou pelo cinema. São desejos 
simples e um pouco deslocados. Quando ela vê uma propaganda 
de um creme de rosto, seu desejo é comer o creme com colher.

Outro desejo que aparece em Macabéa e que é explorado pelo narrador 
é o seu desejo sexual. Todos os movimentos de Macabéa são primitivos 
e possuem relação com os instintos básicos de sobrevivência, como 
comer e se reproduzir.

Porém, até esse desejo básico da sexualidade é reprimido em 
Macabéa.Seus pais morreram quando ela era criança e ela foi criada 
por uma tia beata. As pancadas que a tia lhe dava e a criação religiosa 
serviram para que Macabéa reprimisse o menor desejo sexual.


Durante o namoro, Macabéa segue as vontades de Olímpio sem 
questionar. Até quando ele termina o namoro com ela para ficar 
com sua colega de trabalho. Macabéa aceita o término, esboçando 
como única reação um riso de nervosismo.Macabéa praticamente 
não existe, sua presença é sempre pequena, ela nunca quer incomodar 
e sempre é educada. Seu primeiro namoro é com Olímpico, outro 
nordestino mas de carácter totalmente diferente. Ele é descrito como 
alguém decidido, voltado para seus objetivos, uma pessoa com 
anseios, desejos e até alguma maldade.

Interpretação

A Hora da Estrela é um dos principais romances de Clarice Lispector 
e um dos mais importantes da literatura brasileira. O que torna o livro 
especial é a relação que o narrador Rodrigo S. M. tem com a personagem
 principal Macabéa.

O livro é, acima de tudo, uma reflexão sobre o exercício da escrita e do 
papel do escritor. Clarice Lispector sempre foi tida como uma escritora 
“difícil”. Nesta obra, ela nos mostra como seu processo criativo é 
complexo, justificando um pouco o conteúdo. Rodrigo S. M. nos diz 
no começo do romance:


Escrevo por não ter nada a fazer no mundo: sobrei e não há lugar para
 mim na terra dos homens. Escrevo porque sou um desesperado e estou
cansado...

A angústia do escritor é matéria essencial da obra. Por meio da estória e 
da Macabéa, o escritor consegue “aliviar” sua angústia. Porém, esse alívio 
é passageiro, pois logo a própria escrita se torna fonte de angústia.

Há também uma preocupação com o inefável (aquilo que não pode ser dito) 
e com os limites do narrador. A vibração como forma de comunicação não 
verbal reverbera em todo o romance, mas como o livro é essencialmente 
palavras essa comunicação é falha. O narrador tem seus próprios limites.

A pergunta que se coloca é como constituir, criar e narrar uma vida tão
 diferente da do criador.


Vai ser difícil escrever essa história. Apesar de eu não ter nada a ver 
com a moça, terei que me escrever todo através dela por entre espantos 
meus.

O sucesso do romance (a sua escrita e a transformação da narrativa em
literatura) é ainda, por mais contraditório que pareça, o fracasso do narrador.


Estou absolutamente cansado de literatura; só a mudez me faz companhia. 
Se ainda escrevo é porque nada mais tenho a fazer no mundo enquanto 
espero a morte. A procura da palavra no escuro. O pequeno sucesso me 
invade e me põe no olho da rua.

A Hora da Estrela é a grande reflexão sobre a escrita e sobre o papel do 
escritor. Sobre os limites do narrador e do próprio ato de narrar. 
Em última instância, é o desabafo de quem tem quer vomitar uma estrela 
de mil pontas.
Resumo

O livro começa com Rodrigo S. M., o narrador e escritor, refletindo sobre 
o papel da escrita e da palavra. Ele usa o primeiro capítulo para justificar 
o próprio livro. O chamado para a escrita é interno, vem da necessidade 
do próprio narrador.


Macabéa é datilógrafa e divide um quarto com outras três migrantes. 
Logo no começo da estória, ela é demitida por não sabe escrever direito, 
mas seu chefe Raimundo ainda a deixa trabalhar por ter pena dela.
Rodrigo S. M. continua a aparecer ao longo de todo o romance, fazendo 
pequenas intervenções e levantando questões existenciais sobre si mesmo 
e sobre as personagens. Macabéa é a personagem principal do romance. 
Ela é uma nordestina que migra para o Rio de Janeiro.

A vida de Macabéa é simples, ela trabalha e em casa escuta uma rádio na 
qual a programação consiste em cultura, hora certa e alguns anúncios. 
Toma café frio antes de dormir, tosse à noite e come pedacinhos de papel 
para enganar a fome.

Um dia ela falta ao trabalho e fica sozinha no seu quarto. Ela experimenta 
a solidão, dança sozinha, toma café solúvel e até sente tédio. É nesse 
mesmo dia que ela conhece Olímpico, que vem a ser o seu primeiro 
namorado.

O namoro segue sem graça, o casal sai quase sempre em dias de chuva. 
Seus passeios consistem em sentar-se em um banco na praça, onde 
conversavam. Olímpico sempre se irritava com as perguntas de Macabéa.

Um dia Olímpico resolve pagar um café para Macabéa, que fica tão feliz
 com o luxo que acaba colocando muito açúcar no café para aproveitar. 
Outro dia eles vão ao zoológico. Macabéa fica tão assustada com o 
rinoceronte que urina na própria saia.

O relacionamento acaba quando Olímpico conhece Glória, a colega de 
trabalho da Macabéa. Glória era loira oxigenada, seu pai trabalhava num 
açougue e ela fazia parte do clã do sul do Brasil. Todas essas qualidades 
eram atrativos para o ambicioso Olímpico, que trocou Macabéa por sua 
colega Glória.

Sentindo-se mal por ter roubado o namorado da colega, Glória passa a 
ajudar Macabéa. Primeiro a convida para jantar em sua casa e depois 
oferece dinheiro emprestado para Macabéa ir visitar uma cartomante.

A visita à cartomante marca uma reviravolta na vida de Macabéa. 
Ela pede licença do trabalho, inventando uma dor de dente e, com o 
dinheiro emprestado, vai de táxi para a cartomante. Lá, se encontra 
com a Madama Carlota, uma antiga prostituta e cafetina que, depois 
de enriquecer, tira a sorte nas cartas.

Carlota traz boas notícias para Macabéa: ela vai encontrar um gringo rico 
que vai se casar com ela, e sua vida de sofrimento vai ficar para trás. 
Para confirmar a sua sinceridade ao contar o futuro, Carlota afirma 
que a cliente anterior saiu chorando pois as cartas disseram que ela 
seria atropelada.


O narrador Rodrigo S. M. reaparece de forma bem marcante. 
Ele hesita em relação à narrativa. Ele não sabe se Macabéa deve morrer 
ou não. Essa é a hora da epifania. Largada no chão, Macabéa quer 
vomitar uma estrela de mil pontas.Macabéa sai da cartomante cheia 
de saudades do futuro, pronta para começar a sua nova vida. 
Porém, ao atravessar a rua, é atropelada. O atropelamento de Macabéa 
é uma das parte mais importantes do livro, é a “hora da estrela”.
Principais personagens

Rodrigo S. M.: é o escritor e o narrador da estória de Macabéa.

Macabéa: nordestina que migra para o Rio de Janeiro onde é datilógrafa.

Olímpico: primeiro namorado de Macabéa, que a troca por sua 
colega Glória.

Glória: colega de Macabéa.

Madama Carlota: ex-prostituta e cafetina. É a cartomante que 
tira as cartas para Macabéa.

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